terça-feira, 29 de junho de 2010

Legendagem

“O DIÁRIO DE BRIDGET JONES” LEGENDADO:
AS OMISSÕES COMPROMETEM A COMPREENSÃO DO ESPECTADOR?

Luanda Garibotti Victorino





Este trabalho tem como objetivo analisar as legendas em português traduzidas de um filme em inglês, tendo como foco principal a investigação do uso do procedimento de tradução – omissão, empregado devido as restrições impostas pelos procedimentos técnicos de legendagem e as transformações realizadas da língua falada para a escrita. O suporte teórico no que se refere a legendagem foi dado por Toschi (1983), Alvarenga (1998), Andrade (1998), Souza, (1998), Forner (2003) e Trindade (2004); Para a quaestão da língua falada e escrita, utilizou-se os trabalhos de Marcuschi (1994), Barros (1998), Urbano (1998); e com relação ao uso dos procedimentos de tradução e da omissão, mais especificamente, adotou-se as teorias propostas por Barbosa (1990) e Linde (1995). O corpus da pesquisa é contituído pelas legendas do filme O Diário de Bridget Jones, em formato DVD. Na primeira fase de estudo, houve um confronto entre a teoria sobre as normas de legendagem e o corpus a fim de verificarmos as restrições impostas pelas normas técnicas. Na segunda, focalizou-se o uso de omissões nas legendas, suas prováveis razões e se o uso deste procediemnto representaria problemas para o entendimento do filme. Os resultados mostraram que as normas técnicas são realmente aplicadas às legendas impondo, assim, certas restrições à sua confecção. Quanto a omissão, a pesquisa revelou que este procedimento é empregado frequentemente na tradução para legendas e apresenta diversos tipos. Em linhas gerais, as omissões são empregadas de maneira sistemática e não causam problemas para o espectador que assiste ao filme. No entanto, notou-se que mesmo havendo uma certa sistematização, é necessário que o tradutor analise muito bem o texto e a cena para que possa fazer uma boa escolha.
Palavras-Chave: legenda, normas técnicas, língua falada/escrita, tradução, omissão

INTRODUÇÃO

Sabe-se, hoje em dia, que o papel do tradutor é fundamental em nossa sociedade. Este profissional é, não só responsável por traduções no mundo acadêmico, comercial e jurídico, mas também está presente em vários outros âmbitos de nossas vidas, tal como o do entretenimento. Sendo assim, resolvemos analisar traduções feitas para este último segmento. Optamos por estudar a legendagem de filmes, pois este é um tipo de tradução ao qual um grande número de pessoas está exposta. A escolha desta área específica da tradução também se justifica pelo fato de haver muitas críticas negativas com relação a qualidade das legendas produzidas no Brasil.

Desse modo, tendo definido nossa área de pesquisa e considerando que o fator qualidade das legendas é bastante discutido, nos pareceu interessante trabalharmos com este tema, porém com enfoque diferente do comumente abordado. Ao invés de analisarmos um filme para apontarmos os erros, más escolhas e criticarmos o trabalho de um tradutor, decidimos analisar as legendas, verificando um dos processos de tradução empregados para que uma boa tradução fosse possível – a omissão.

Dessa maneira, um de nossos objetivos é defender a figura do tradutor de filmes que devido a uma característica própria da legendagem – apresentação da tradução simultaneamente com texto original - acaba sendo exposto e julgado pelos espectadores constantemente por suas escolhas. Tal crítica ocorre, uma vez que o público leigo não tem conhecimento que o processo de tradução de um filme envolve uma série de aspectos que diferenciam a legendagem de uma outra tradução. O tradutor deve levar em consideração as técnicas de composição das legendas, que envolvem uma relação entre tempo e espaço, assim como as dificuldades da reprodução de um diálogo, que é um texto falado, em legendas, um texto escrito.

Assim, é neste contexto que se insere nosso trabalho, que tem como objetivo primeiramente, explicitar as técnicas de montagem de uma legenda e as diferenças entre língua escrita e língua falada. Partindo destas restrições que dificultam a tarefa do tradutor, analisaremos as legendas em língua portuguesa do Brasil que foram traduzidas da língua inglesa do filme O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones´s Diary), em formato DVD. A análise das legendas está restrita àquelas que tenham sido traduzidas com o auxílio do procedimento técnico da omissão – procedimento bastante empregado na legendagem de filmes. Pretendemos verificar quais os tipos de omissões que foram utilizadas neste filme, as razões para o uso deste procedimento e até que ponto há uma interferência na compreensão do filme, uma vez que o espectador não tem acesso à tradução do texto integral.

Com relação à área da legendagem no universo acadêmico, não podemos dizer que há uma vasta literatura, porém, foi possível encontrar uma certa variedade de artigos para nossa pesquisa. Assim, tomamos como base para nossa fundamentação teórica, material proveniente de três áreas: a primeira delas lida com os procedimentos técnicos para legendagem, uma vez que estes impõem restrições ao trabalho do tradutor. Para tanto, nos baseamos em alguns artigos e em uma conferência, que apesar de apresentarem objetivos diferenciados com relação a legendagem, como análises e críticas de filmes, identificação de procedimentos, metodologia... tinham em comum um parte dedicada a descrição das técnicas de preparação de legendas. A utilização de vários textos foi importante, pois pudemos cruzar dados provenientes de diversas fontes e assim, nos certificamos que tivemos acesso a pelo menos todos os dados principais deste processo. Nossa pesquisa utilizou os trabalhos de Toschi (1983), Alvarenga (1998), Andrade (1998), Souza (1998), Forner (2003) e Trindade (2004).

A segunda área específica trata da diferença entre língua falada e escrita, pois a legenda é a representação escrita traduzida da língua falada. Nesta parte, utilizamos os trabalhos de Marcuschi (1994), Barros (1998) e Urbano (1998).
Quanto a terceira área, procedimentos de tradução, iniciamos nossa pesquisa com base no trabalho de Barbosa (1990) e para a área mais específica da omissão, utilizamos o artigo de Linde (1995).

Partindo destes pressupostos teóricos e da análise de nosso corpus, dividimos este trabalho em capítulos que foram estruturados da seguinte forma – o capítulo 1 apresenta o suporte teórico da pesquisa, focalizando os conceitos técnicos da legendagem, as diferenças entre língua escrita e língua falada e o procedimento de tradução da omissão e seus diferentes tipos; o capítulo 2, Metodologia da Pesquisa, apresenta o corpus e os procedimentos de análise; o capítulo 3 apresenta e analisa os resultados do estudo; e a última parte fica reservada para a conclusão.



CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo tem por objetivo descrever os preceitos teóricos que embasam esta pesquisa. Para tanto, está dividido em três partes:

Na primeira parte, serão apresentados os aspectos técnicos específicos referentes à composição das legendas, que influenciam o trabalho do tradutor, baseados nos seguintes trabalhos de Toschi (1983) “A tradução para o cinema e a televisão”, Alvarenga (1998) “Subtitler: legendador, ou legendista”, Andrade (1998) “Tradução para legendagem: cinema x televisão”, Souza (1998) “A Tradução para preparação de séries televisivas”, Forner (2003) “Identificação de alguns procedimentos/estratégias predominantes na tradução de filmes: Uma abordagem sobre a legendagem para vídeo e Trindade (2004) “Os desafios da tradução para legendas”.

A segunda parte do capítulo dedicar-se-á a apresentar as diferenças entre língua falada e língua escrita. Tal conceito é importante para nossa pesquisa uma vez que a legendagem envolve a transcrição e tradução de um texto falado, (ainda que este seja proveniente de um roteiro, previamente escrito e planejado), para um texto escrito. Com este propósito, utilizaremos os conceitos apresentados no livro de Marcuschi (1994) Da fala para a escrita e nos artigos de Barros (1998) “Procedimentos e recursos discursivos na conversação”, Urbano (1998) “Variedades de planejamento no texto falado e no escrito”.

O terceiro segmento deste capítulo pretende discorrer mais especificamente sobre os procedimentos de tradução propostos por Barbosa (1990) em Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta e sobre um dos procedimentos mais recorrentes na legendagem de filmes – a omissão. A fim de obtermos os preceitos teóricos sobre este tópico, utilizamos uma pesquisa de Linde (1995), da Universidade de Bristol, “`Read my Lips` Subtitling principles, practices, and problems”, no qual a autora discorre sobre as restrições existentes na tradução para legendas e revela os resultados dos diferentes tipos de omissão obtidos na análise da legendagem inglesa de dois filmes franceses


1.1 Procedimentos técnicos de legendagem

Durante nossas pesquisas sobre legendagem, percebemos que todas as fontes consultadas apontam a legendagem como um trabalho específico de tradução, pois envolve mais aspectos do que a tradução de um outro texto. O tradutor deve levar em consideração uma série de pré-requisitos antes de partir para a tradução propriamente dita, uma vez há uma vários detalhes que irão influenciar tal ação. A seguir, apresentaremos os pontos principais que devem ser observados para a produção de uma boa legenda: estética, duração e tempo.

1.1.1 Estética da legenda

De acordo com as fontes consultadas, a legenda pode conter até duas linhas cheias de 36 a 40 toques cada, variando de acordo com a empresa legendadora que a produz. Deve-se ressaltar que há diferentes tipos de laboratórios e equipamentos no mercado.

Além de encaixar o texto neste espaço limitado, pois como lembra Toschi, um filme “não tem amplos espaços nem rodapés” (TOSCHI, 1983:151), o tradutor também precisa levar em conta outros recursos que facilitem a leitura do espectador, tais como: itálico para diferenciar narrações, letras de música, televisão, rádio ou quando há uma voz vinda do telefone; uso do hífen, substituindo o travessão, quando as falas de duas personagens diferentes aparecem na mesma legenda; reticências quando uma personagem é interrompida ou quando sua fala não cabe em apenas uma legenda; uso de aspas para dar ênfase a certas palavras, expressões ou para diferenciar palavras estrangeiras.

Todos estes itens citados acima parecem extremamente simples e portanto, não apresentariam dificuldades em uma tradução comum. No entanto, no caso das legendas, tendo um espaço limitado para apresentar a tradução, estes elementos acabam restringindo as possibilidades de escolha do tradutor, pois restringem ainda mais o espaço para o texto propriamente dito.

1.1.2 Duração da legenda

Além do espaço restrito para o texto ser exibido, como mencionado acima, outro ponto fundamental na produção das legendas é o tempo no qual esta deva permanecer na tela. Todos os autores consultados afirmam que a legenda deve ser exibida durante um tempo adequado para leitura, não podendo ficar muito tempo, pois torna-se cansativa, mas também não deve ficar pouco tempo, o que exigiria do espectador uma leitura muito rápida, como comenta Forner (2003).

A fim de explicitarmos a duração do tempo de exibição da legenda, usaremos os exemplos propostos por Trindade (2004) em uma Conferência apresentada no III CIATI. A tradutora, com vasta experiência de mercado, propõe uma média de 14 caracteres por segundo. Dessa maneira, uma legenda composta por duas linhas de 30 caracteres deve permanecer na tela por 4 segundos. Já uma legenda muito longa que exigiria 6 segundos de exibição para sua leitura total, deve, se possível, ser dividida em duas legendas de 2,5 e 3,5 segundos, por exemplo.
No artigo de Andrade (1998), também encontramos uma proposta com relação a duração de exibição das legendas. Segundo a autora:

O tempo de permanência da legenda na tela está relacionado com o tamanho da legenda. Uma palavra curta, como sim, deve permanecer na tela por um segundo. Legendas com uma palavra longa ou duas palavras devem ficar na tela por um segundo e meio. Já legendas de trinta caracteres (uma linha) podem durar entre dois segundos e dois segundos e meio. As legendas cheias (duas linhas) podem durar entre quatro e seis segundos no máximo. (ANDRADE, 1998, p. 260)

Devido a esse fator de restrição do tempo de leitura, a legenda precisa ser compreendida facilmente a fim de que possa ficar o menor tempo possível na tela. Dessa maneira, cada legenda deve ter sentido próprio, ou seja, além da preocupação com o número de caracteres, o tradutor também precisa ter este cuidado de produzir “bloco de palavras, lógico e coerente” (ANDRADE, 1998:260).

1.1.3 Tempo da fala

Outro fator essencial para a determinação do tempo de exposição da legenda é o tempo da fala, ou seja, a velocidade com a qual as personagens falam o texto. Dessa maneira, “a legenda deve se iniciar com a fala de cada personagem e se encerrar com essa mesma fala, evitando adentrar a fala do personagem seguinte e atravessar as cenas” (TOSCHI,1983:152). Quando não houver uma sincronia entre a fala e o tamanho da legenda, Andrade sugere que o tradutor deva compreender bem o texto para poder fazer uma boa adaptação e até mesmo empregar o procedimento da omissão. O mesmo é sugerido por Trindade em um dos exemplos de sua conferência quando a tradução da fala ocupa três linhas e há apenas 5 segundos disponíveis para a legenda, a tradutora sugere um resumo do texto.

Com esta breve exposição dos procedimentos técnicos que envolvem a legendagem de filmes – estética, duração e tempo da fala – pudemos perceber o quão complexo é a tradução para as legendas de um filme. O fato de se ter a tradução da fala atrelada a relação tempo e espaço dificulta muito este processo, pois como afirma Alvarenga:

O tradutor que faz legenda precisa saber quanto tempo o ator levou para dizer sua fala, calcular a relação tempo/caracteres e só depois de obter o resultado desse cálculo é que terá condições de confeccionar a legenda, isto é, tomar as decisões quanto a forma que será dada ao sentido do texto de partida, escolher os elementos sintáticos e lexicais que comporão o produto final (...) (ALVARENGA, 1998, p.215)

1.2. Distinção entre língua falada e língua escrita.

É de conhecimento comum que não se escreve como se fala e portanto, a distinção entre língua escrita e língua falada nos parece extremamente importante para o trabalho de legendagem, visto que a linguagem utilizada em filmes possui características específicas devido ao processo de como o texto é constituído.

Assim, considerando as diferenças entre as línguas escrita e falada e que há estes dois estilos em um mesmo filme, passaremos, a seguir, a apresentar as características de cada língua, para que tal distinção fique mais clara.

1.2.1 Características das línguas falada e escrita

Tendo baseado nossa pesquisa em Urbano (1998) e Barros (1998), podemos afirmar que a língua falada é realizada oralmente num sonoro contínuo enquanto a língua escrita é representada gráfica e visualmente. Enquanto a parte sonora de um texto falado contém entonação, ritmo, intensidade, dinâmica e qualidade da voz., todos estes traços são representados no texto escrito por letras, sinais diacríticos, pontuação e descrições lingüisticas específicas.

Esta primeira diferença já nos indica que a língua escrita ocupa mais espaço, com os sinais de pontuação, por exemplo, pois precisa representar essas variações. Entretanto, considerando o tema de nosso trabalho, no caso os filmes, devido ao áudio, a legenda não precisa ser tão explicativa, com relação a entonação e qualidades da voz, pois o espectador ouve o som original do filme, tendo assim acesso a tais variações.

Outra distinção importante está relacionada ao planejamento textual. Mesmo que a fala das personagens tenha sido planejada anteriormente por meio escrito (roteiro), a fim de que o texto represente a realidade, tenta-se recriar as características de um texto falado, que devido a falta de planejamento prévio, normalmente apresenta, estruturas frásicas fragmentadas, descontinuidade temática e verbal, hesitações, pausas e repetições.

Relacionando esta distinção com nosso trabalho, todas essas marcas presentes na fala dos personagens devem ser consideradas no processo de tradução e legendagem. No entanto, devemos apontar que as legendas, apesar de representarem a língua falada, estão escritas e portanto, muitas destas marcas de oralidade serão eliminadas na tradução e omitidas na legenda. Tal fator nos leva, novamente, ao tema central deste trabalho – as omissões e seus diferentes tipos na legendagem do filme Bridget Jones’s Diary.

1.2.2 Processo de produção do texto de um filme e sua legendagem

Para a produção do texto de um filme, primeiramente, é redigido um roteiro, utilizando a língua escrita, mesmo que este roteiro tente criar um texto que seja semelhante a língua falada para representar as falas das personagens. Num segundo momento, o texto é interpretado pelos atores e pode até ser modificado devido a um pedido do diretor ou a algum improviso do ator e, assim, temos a fala. Em seguida, esta fala é traduzida e volta a ter algumas características da língua escrita no formato de legendas.

A este processo de transformação da língua falada em língua escrita, Marcuschi (1994) denomina processo de retextualização, pois devido as características próprias de cada uma dessas línguas para uma transformação da fala para escrita é necessário um processo de tratamento da seqüência de enunciados para que o texto falado fique legível na forma escrita. Deve-se ressaltar que a língua escrita possui marcas próprias referentes a legibilidade do texto, onde as sentenças seguem uma ordem lingüística, diferentemente da língua falada que possui uma série de características, mencionadas acima, tais como estruturas frásicas fragmentadas, pausas, hesitações e reiterações, que a tornam ilegível se apenas transcritas com suas marcas específicas.

No entanto, devemos ressaltar também, que a legendagem é ainda um pouco mais complexa, pois envolve uma etapa anterior a transformação da fala em escrita. Há também o processo de transformação do roteiro escrito em fala para, em seguida, haver a retextualização.

Até o momento, apresentamos as restrições e as dificuldades do processo de legendagem, tanto pelas normas técnicas das legendas: estética, tempo e sincronia, quanto pelas mudanças necessárias devido a transformação de língua falada em língua escrita para que haja legibilidade no texto. Passaremos, a partir de agora, a apresentar os procedimentos de tradução e focaremos nossa atenção para as omissões e seus diferentes tipos.


1.3 Procedimentos de tradução e omissão

Nesta terceira parte da fundamentação teórica, discutiremos procedimentos de tradução. Para tanto, ao iniciarmos nossa pesquisa, partimos de uma classificação de tais procedimentos proposta por Barbosa. Em seu trabalho, a autora sugere quatorze tipos de estratégias de tradução que são empregadas para transmitir a mensagem da língua de origem para a língua alvo. De acordo com essa proposta, temos os seguintes procedimentos: tradução palavra-por-palavra; tradução literal; transposição; modulação; omissão; equivalência; explicitação; compensação; reconstrução de períodos; melhorias; transferências; decalque; e adaptação.

Dentre todos estes procedimentos de tradução propostos por Barbosa, escolhemos analisar somente um deles - a omissão. Nosso objetivo seria analisar o uso deste procedimento específico empregado no processo de legendagem do filme Bridget Jones’s Diary, em formato DVD. Optamos por essa linha de análise, uma vez que em nossas pesquisas, pudemos notar que tal procedimento era recorrente e essencial na legendagem de um filme, pois como pudemos observar anteriormente, devido as restrições impostas pelas normas técnicas e pela transformação da língua falada em língua escrita, a redução do texto traduzido é fundamental.

Tendo optado por esse tema, partimos para uma pesquisa mais específica sobre esse procedimento e nos deparamos com o artigo de Linde (1995), o qual também havia levado em consideração as normas técnicas e as variações que ocorrem devido as diferenças da língua escrita e falada e parece ter chegado a conclusão que a legenda normalmente reduz, como podemos verificar na seguinte passagem:

The final feature distinguishing subtitling from other forms of translation is the reduction in text. Fast spoken words can rarely be transcribed into two (possibly three) lines of written test. Thus the dialogue has to be condensed, which in turn means selecting particular features of the source text to be omitted, whether this is done by straight deletion or by reductive paraphrasing. (LINDE, 1995, p.13)

Assim, partindo do pressuposto que a omissão é necessária para um trabalho de legendagem, Linde passa a trabalhar com o conceito de relevância proposta por Kovacic (1993), o qual sugere que devido ao pouco espaço e tempo da legenda, o tradutor conta com a habilidade dos espectadores para entender a mensagem empregando “adequate cognitive schemata or frames and to draw on either previous information in the story or their general knowledge of the world” (KOVACIC, 1993:13 apud LINDE,1995)

Ao registrar somente o que é mais relevante nas legendas, temos a impressão de que as omissões acontecem ao acaso, ou seja, o tradutor iria eliminando o que considera supérfluo. Entretanto, em sua análise, Linde verifica que há um certo padrão ao empregar tal procedimento e propõe dois tipos de reduções: parcial (condensações e paráfrases) e total (eliminações). Segundo Linde, as reduções parciais seriam mais difíceis de serem constatadas, uma vez que “it is not clear whether they are the result of standard translation strategy or a deliberate attempt to reduce the target text” (LINDE, 1995:15). Já as reduções totais – omissões - poderiam ser registradas mais facilmente. Desse modo, após a análise das legendas em inglês de dois filmes franceses, a autora classificou todas as omissões encontradas em seu corpus de acordo com a seguinte categorização:

• marcas de interação – termos interacionais, modais, tag questions, elipse do sujeito, etc.
• linguagem gestual – exclamações, afirmações, negações e fillers (itens que indicam que o falante deseja continuar a falar).
• Repetições – repetição de palavras
• Comentários adicionais
• Informações adicionais – informações adicionais de lugar, ação e expressões deiticas
• Diálogo completo – conversas paralelas, pares adjacentes
• Nomes próprios

Após a análise e classificação de seu corpus, ao final de seu artigo, Linde parece concluir, não só que as omissões são extremamente necessárias para a legendagem de um filme devido a todas as restrições impostas por este meio de comunicação, mas também que o uso deste procedimento obedece um certo padrão e não é empregado ao acaso pelo tradutor.

Nesse capítulo, foram apresentados todos os pressupostos teóricos que utilizamos para embasar nossa pesquisa. No capítulo seguinte, trataremos da questão da metodologia adotada para este trabalho.

CAPÍTULO II - METODOLOGIA

Este capítulo compreende as seguintes etapas: descrição do corpus, tipo de pesquisa e procedimentos de análises.

2.1 Descrição do corpus

As legendas que compõem o corpus deste estudo foram extraídas do filme O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones’s Diary) (2001), em formato DVD, distribuído pela Columbia TriStar Home Entertainment, configurado na NTSC 4, com legendas em inglês, português, espanhol, chinês, coreano e tailandês.

A comédia apresentada pela Universal Pictures Studiocanal e Miramax Films é uma produção de Working Title, baseado no livro com o mesmo título da autora Helen Fielding, com os atores Renee Zellweger, Hugh Grant e Colin Firth nos papéis principais e direção de Sharon Maguire.
A estória retrata Bridget, uma mulher solteira de 32 anos, que no primeiro dia do ano, decide que é hora de assumir o controle de sua vida e começa a escrever um diário, no qual relata suas opiniões, sentimentos e experiências sobre qualquer assunto – de ginástica a homens, de comida a suas aventuras amorosas.

Deve-se ressaltar, que além da qualidade de tradução do texto e da apresentação das legendas apresentadas pelo DVD, a escolha deste filme teve um certo grau subjetivo, uma vez que se trabalharia durante muito tempo com o roteiro, preferiu-se escolher algo interessante e divertido, característica totalmente subjetiva, mas que não nos parece interferir na análise proposta.

Para este trabalho, utilizamos as legendas em inglês exibidas pelo DVD, que serão representadas, a partir deste ponto do trabalho pela sigla LegI, enquanto que as legendas em português, também retiradas do DVD, estarão assim representadas – LegP.

Tendo descrito nosso corpus, passaremos, a seguir, a relatar nossos procedimentos de análise.

2.2 Tipo de pesquisa

Devemos ressaltar que este trabalho consiste de uma pesquisa
exploratória realizada através da identificação, localização e compilação de dados
escritos em livros e artigos de revistas especializadas, assim também como dados apreendidos em Congressos como o III CIATI.

2.3 Procedimentos de análise

Neste segmento do capítulo, descreveremos a metodologia empregada para a produção deste trabalho. Dessa maneira, podemos dizer que, a partir da seleção do filme, procedeu-se da seguinte forma:

1. Transcrição das LegI, fornecidas pelo DVD, seguida de verificação junto ao áudio, a fim de corrigirmos o texto em inglês, que em algumas cenas, apresentou omissões que precisavam ser recuperadas para que pudéssemos ter acesso a todas as falas das personagens de maneira integral.

2. Transcrição das LegP fornecidas pelo DVD. Neste momento, devemos ressaltar que o texto fora transcrito exatamente como exibido na tela, uma vez que nosso objetivo é analisar este material.

3. Análise das LegP a fim de verificarmos se os conceitos teóricos propostos no tópico 1.1 deste trabalho: procedimento técnicos de legendagem, eram realmente empregados nas legendas e se representavam as limitações mencionadas.

4. Levantamento de exemplos para ilustração destes procedimentos técnicos de legendagem.

5. Cotejo entre as LegI e LegP para que pudéssemos verificar as omissões de certos elementos presentes no texto original do filme, mas eliminados nas LegP.

6. Análise somente das LegP que contivessem omissões.

7. Identificação dos elementos omitidos. Deve-se observar que os elementos omitidos das LegP foram destacados nas LegI através do recurso “negrito”.

8. Separação das LegP por grupos, seguindo um critério de semelhança entre os elementos omitidos.

9. Com base em tal separação, produziu-se uma classificação dos diferentes tipos de omissões encontrados em nosso corpus. Para tal tarefa, foi levada em consideração a classificação das legendas em inglês dos filmes franceses, analisados por Linde (1995), em seu artigo, já mencionado em nossa Fundamentação Teórica. Desse modo, preparamos uma classificação própria das legendas do filme O Diário de Bridget Jones.

10. Breve comparação entre nossa classificação e a proposta por Linde.

11. Levantamento numérico dos exemplos de cada tipo de omissão. Apresentação de gráfico ilustrativo da quantidade de casos.

12. Análise dos prováveis motivos que teriam levado o tradutor a recorrer ao uso procedimento de tradução omissão.

13. Análise dos exemplos de omissões a fim de concluirmos se o emprego deste procedimento de tradução prejudicaria os espectadores em sua compreensão do filme.

14. Identificação de somente alguns casos de possíveis problemas causados pelo uso da omissão.

15. Discussão dos casos citados acima.

16. Conclusão


CAPÍTULO III - ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo tem por objetivo apresentar, analisar e discutir os dados de nosso corpus, isto é, as legendas do filme O Diário de Bridget Jones, em formato DVD, com base nos conceitos teóricos apresentados no capítulo 1 (Fundamentação Teórica) deste trabalho.

Devemos ressaltar que nosso objetivo não é analisar as legendas de uma maneira geral, mas sim analisá-las com relação ao uso de um procedimento de tradução denominado omissão.
Para tanto, dividiremos este capítulo em três partes, sendo que a primeira apresentará os exemplos retirados de nosso corpus dos pré-requisitos referidos anteriormente no item 1.1 deste trabalho, a segunda parte tratará mais especificamente do uso das omissões, referidas no item 1.3 do capítulo1 e na terceira parte, trataremos do uso inadequado do procedimento da omissão em uma legenda e suas possíveis conseqüências.

3.1 Da teoria a prática dos procedimentos técnicos de legendagem

Neste ponto de nosso trabalho, temos a intenção de esclarecer e ilustrar as imposições técnicas necessárias para a confecção das legendas apresentadas em nossa Fundamentação Teórica como 1.1.1 Estética da legenda, 1.1.2 Duração da legenda e 1.1.3 Tempo de fala.

Primeiramente, trataremos da questão da estética da legenda, que no caso de nosso filme é extremamente importante, pois sendo a estória baseada em um diário, durante todo o filme há uma mistura de narração e diálogos que precisa ser diferenciada nas legendas. Assim, todas as vezes que há uma narração da personagem principal de suas estórias, pensamentos e sentimentos, o tipo de letra utilizado nas legendas é alterado para itálico, como podemos verificar no trecho que segue:


Texto em inglês Legenda
It all begun on new Year’s day Tudo comecou no dia de ano novo…
in my 32nd year of being single no meu 32o. ano de solteira.
Quadro 1: exemplos do uso de itálico nas legendas para narrações

A fonte também é modificada para o itálico nos casos de letra de música, falas provenientes da televisão e vozes do telefone, exatamente como havia sido descrito em nossa fundamentação teórica.

Texto em inglês Legenda
All by myself Totalmente sozinha
Don’t wanna be Não quero ficar
Quadro 2: exemplo do uso de itálico para letras de música

Texto em inglês Legenda
This has been Bridget Jones for Sit Up Britain Esta foi Bridget Jones para
“Sit Up Britain”…
Quadro 3: exemplo do uso de itálico para vozes provenientes da televisão

Texto em inglês Legenda
You have no messages Nenhum recado
Quadro 4: exemplo do uso de itálico para vozes ao telefone

Além deste tipo de alteração, a fonte também aparece em outros formatos, como, por exemplo sendo grafada em letras maiúsculas. Quando as legendas representam a tradução de textos que aparecem no filme na forma escrita, como pode ser visto na legendagem dos emails da personagem Bridget Jones em determinado momento do filme:



Texto em inglês Legenda
New mail VOCÊ RECEBEU NOVA MENSAGEM
From: Daniel Cleaver DE: DANIEL CLEAVER
Subject: Serious problem ASSUNTO: PROBLEMA SÉRIO
Quadro 5: exemplo do uso de fontes caixa alta para tradução de termos escritos

Ainda com relação a estética da legenda, há outros elementos que também devem ser empregados a fim de facilitar a leitura e a compreensão por parte dos espectadores, tais como hífen para simbolizar o travessão nos diálogos, reticências para indicar que a personagem continuará a falar e aspas para dar ênfase ou destacar palavras ou expressões. Tais casos podem ser observados nos exemplos a seguir:

Texto em inglês Legenda
Doilies, Pam? Hello, Bridget. - e os apoios, Pam? Ola, Bridget.
Third drawer from the top, Una - Terceira gaveta, Una.
Quadro 6: exemplos do uso do hífen como travessão

Texto em inglês Legenda
Once again I found myself on my own Mais uma vez, eu estava sozinha…
Quadro 7: exemplo do uso de reticências

Texto em inglês Legenda
Mr. Fitzherbert. Titspervert, more like O sr. Fitzherbert, ou melhor “Fitapeito”
Quadro 8: exemplo do uso de aspas

Após a apresentação destes exemplos referentes à questão da estética da legenda, deve-se ressaltar que o uso destes elementos acaba por tornar o trabalho do tradutor um pouco mais difícil e complexo, como já mencionamos na Fundamentação Teórica, uma vez que estes pré-requisitos reduzem o número de caracteres disponíveis para o texto e portanto, obrigam o tradutor a utilizar mais o procedimento da omissão, para que assim possa transmitir a mensagem veiculada dentro de um espaço restrito.

Assim como a estética da legenda impõe restrições a tradução, a duração de exibição da legenda na tela e o tempo de fala das personagens também limitam a tradução devido a relação tempo/espaço, como foi explicado no capítulo 1 deste trabalho. Vamos retornar àqueles conceitos teóricos a fim de verificarmos como estes são empregados na prática e, em seguida, discutiremos alguns casos retirados de nosso corpus.

Primeiro, devemos lembrar que o tempo médio convencionado para a leitura de uma legenda é de 4 segundos para cada 2 linhas de aproximadamente 30 caracteres cada. Desse modo, fazendo-se as divisões proporcionais temos o seguinte padrão:

Número de
Caracteres Tempo
para leitura
15 1 segundo
30 2 segundos
45 3 segundos
60 4 segundos
Quadro 9: Relação do número de caracteres e o tempo de leitura

Partindo dos números indicados nesta tabela e considerando o segundo pressuposto teórico necessário para a produção de uma boa legenda – o tempo de fala, o qual nos revela que se deve respeitar o sincronismo entre a fala das personagens e a entrada e saída das legendas na tela – analisaremos, a seguir, alguns exemplos do filme.

No primeiro caso, há um texto longo, produzido em apenas 14 segundos. Com este tempo disponível, o tradutor dispõe de cerca de 4 legendas e, para que pudesse atingir essa meta, acabou reduzindo o texto, como podemos verificar na próxima página:



Texto em inglês Legenda Caracteres Tempo
Put on some more make up. 1. Mais maquiagem. 36 3s

I want you on camera. 2.Estou pensando numa minissaia 55 4s
I’m thinking miniskirt. e num capacete de bombeira
I’m thinking fireman’s helmet.

I want you pointing a hose 3. e segurando uma mangueira 26 3s
I want you sliding down 4.desça pelo cano de emergência 42 2s
e entreviste.

the pole.

Then go straight to the interview.

Quadro 10: exemplos de omissão devido a relação tempo/espaço

Nesta passagem, podemos observar as omissões que foram necessárias para que a legenda tivesse tamanho e tempo de leitura adequados. Omitindo certos elementos, que estão destacados em negrito no texto em inglês, o tradutor conseguiu adaptar o texto e encaixá-lo em 4 legendas exibidas nos 14 segundos disponíveis. Note que dentro destes 14 segundos, também deve ser considerado, o pequeno intervalo entre a entrada e saída de uma legenda. Por isso, os 12 segundos utilizados pelo tradutor foram perfeitos e sincronizados com a fala da personagem.

O exemplo demonstrado acima não é um caso isolado. Esta situação ocorre com bastante freqüência ao longo do filme. O tradutor precisa ter muita habilidade para empregar bem os procedimentos de tradução adequados a cada situação, sendo a omissão, um dos procedimentos mais utilizados. Ilustraremos tal necessidade com mais três exemplos que seguem:

Texto em inglês Legenda Caracteres Tempo

You know, mum, I haven’t really got time right now Não estou com tempo agora.
26
2s.

Quadro 11: exemplo (1) de sincronia entre número de caracteres e tempo de exibição da legenda na tela

Texto em inglês Legenda Caracteres Tempo
Without you, 20 years from now, I’ll be in some seedy bar with some seedy blonde. Sem você, em 20 anos, estarei com uma loura decadente num bar
60 4s.
Quadro 12: exemplo (2) de sincronia entre número de caracteres e tempo de exibição da
legenda na tela

Texto em inglês Legenda Caracteres Tempo
Yes, but he also nicked Daniel’s fiancee and left
him heart-broken Sim, mas ele roubou a noiva do Daniel 37 2.5s
Quadro 13: exemplo (3) de sincronia entre número de caracteres e tempo de exibição da legenda na tela

Através de todos estes exemplos, esperamos ter demostrado, na primeira parte deste capítulo, o quanto os pré-requisitos impostos pelos procedimentos técnicos de legendagem – estética e duração da legenda e tempo de fala – restringem o espaço disponível para apresentação da mesma, limitando as possibilidades de escolha do tradutor, que muitas vezes emprega o procedimento de tradução denominado omissão a fim de que sua tradução se ajuste ao espaço e tempo disponíveis.

Na segunda parte deste capítulo, nos dedicaremos a análise das legendas do filme O Diário de
Bridget Jones que foram confeccionadas com o uso do procedimento de tradução, mencionado acima, omissão.

3.2 O uso da omissão e seus diferentes tipos

Esta segunda parte do Capítulo 3 dedicar-se-á a análise das omissões encontradas nas legendas de nosso corpus. Para tanto, nos parece importante tecer um breve comentário sobre o método utilizado para esta análise.

Como já mencionado no Capítulo 2 deste trabalho, inicialmente, transcrevemos todas as falas do filme em inglês, depois copiamos todas as LegP apresentadas pelo DVD. Em seguida, cotejamos uma a uma as LegI e as LegP a fim de identificarmos as legendas que tivessem sido produzidas com o uso do procedimento da omissão. Nosso próximo passo foi a análise dos diferentes tipos de omissões existentes. A partir dessa identificação, agrupamos as LegP que possuíam características semelhantes. Tomando como base a classificação publicada por Linde e observando as características encontradas nas legendas de nosso corpus, produzimos uma classificação própria das legendas do filme O Diário de Bridget Jones. Vejamos no quadro que segue, as omissões encontradas nas legendas em inglês dos filmes franceses da pesquisa de Linde (1995) e as omissões das LegP de nosso filme, apenas a título de comparação:
Classificação de Linde Classificação das LegP
Marcas de interação Marcas de interação – marcadores conversacionais
- perguntas de confirmação
- interjeições e
expressões fáticas
Elipse do sujeito
Advérbios
Linguagem gestual
Repetições Repetições
Comentários adicionais
Informações adicionais Informações adicionais – deitico de lugar
- deitico de tempo
Diálogo completo
Nomes próprios Nomes próprios
Palavras de baixo calão
Outros (determinante, adjetivo, verbo...)
Quadro 14: comparação entre classificação dos tipos de omissão de Linde e a nossa

Supomos que os tipos de omissões encontrados em nosso corpus tenham sido um pouco diferentes dos apresentados por Linde, pois as legendas envolvem línguas diferentes – Linde trabalha com a tradução da língua francesa para língua inglesa, enquanto, nós trabalhamos com a tradução da língua inglesa para língua portuguesa - e portanto, algumas características das próprias línguas em questão são distintas.

Além disso, Linde inclui em uma mesma categoria alguns sub-tópicos que preferimos manter separados para facilitar nossa análise. É o caso dos grupos elipse do sujeito e advérbio, que a autora incluiu ambos em marcadores conversacionais.

Outro ponto interessante que surgiu dessa comparação é o fato de Linde ter encontrado varias omissões de diálogos completos (conversas paralelas, pares adjacentes) em sua pesquisa, algo que não ocorre com tanta freqüência em nosso corpus. Houve somente uma ocorrência desse caso. Após a análise das LegP juntamente com o áudio, nos pareceu que o tradutor deve ter tido acesso ao roteiro do filme para produzí-las, pois mesmo aqueles diálogos paralelos, praticamente inaudíveis e que nem constavam nas LegI, apresentam LegP.

Deve-se apontar também que apesar de haver todos estes diferentes tipos de omissão, estes não se excluem, ou seja, muitas vezes, em uma mesma legenda, o tradutor teve que utilizar mais de um desses tipos para adequar seu texto ao tamanho e duração da legenda, como podemos ver no exemplo que segue:

Texto em inglês Legenda
Listen, Daniel, if you changed your mind, you could just say so Se mudou de idéia, pode falar.
Quadro 15: exemplo de mais de um mesmo tipo de omissão na mesma legenda

Nesta única legenda, pudemos ver que o tradutor recorreu ao uso de mais de uma omissão. A primeira, “listen”, é da categoria de marcadores conversacionais; A segunda, “Daniel”, representa a categoria de nomes próprios; e as terceira e quarta omissões, “you”, duas vezes, ilustram a categoria de elipse do sujeito. Portanto, como puderam verificar, em algumas situações, pode-se empregar este procedimento mais de uma vez na mesma legenda.

Assim, após a análise de nosso corpus e da classificação proposta, agrupamos as legendas pela semelhança existente entre suas omissões. O número de ocorrências de cada tipo de omissão pode ser verificado no gráfico a seguir.
Quadro 16: gráfico demonstrativo do número de ocorrências de cada tipo de omissão

Por este gráfico, nota-se que a maioria das omissões utilizadas na legendagem de nosso filme, é da elipse do sujeito. Este tipo de omissão, na verdade, não é só característico da tradução para legendagem, mas é um procedimento bastante empregado na tradução da língua inglesa para língua portuguesa, em geral, pois como afirma Barbosa:

Em inglês , ocorre aquilo que, em português, seria considerado repetição excessiva deles, (os pronomes) já que o português, auxiliado pelas desinências verbais, que deixam claro a que pessoa se refere o verbo, costuma omitir o pronome pessoal na posição do sujeito, ao contrario do inglês, onde é obrigatória sua presença. (BARBOSA, 1990, p.68)

De qualquer maneira, a omissão do tipo elipse do sujeito é uma ferramenta muito útil e portanto, bastante empregada na legendagem de filmes, como podemos ver no caso das legendas de Bridget Jones’s Diary. Seguem exemplos dessa prática retirados de nosso corpus:

Texto em inglês Legenda
1. I brought Natasha Trouxe Natasha
2. We’re engaged Estamos noivos
3. I have got to go back to town Tenho que voltar para cidade.
4. They brought Mark with them. Trouxeram Mark com eles.
Quadro 17: exemplos de omissão de elipse do sujeito

O segundo tipo de omissão mais encontrado em nosso corpus é o dos marcadores conversacionais. O elevado número deste tipo de omissão pode ser facilmente explicado, pois como já apresentamos em nossa Fundamentação Teórica, no processo de legendagem, há uma transformação de língua falada (fala das personagens) em língua escrita (legenda) e devido a essa transformação, uma série de características próprias da língua falada, tais como o uso de marcadores conversacionais acabam sendo eliminadas na forma escrita. Este mesmo conceito fora apresentado por Linde em seu trabalho:

Due to the switch between spoken and written mode many ‘spoken features’ are omitted in subtitling. One can see, for instance, that markers of interaction, fillers and repetitions are therefore strong candidates for omission when the original dialogue is refracted into written form (LINDE, 1995, p.17)

A seguir, apresentaremos os exemplos da omissão dos marcadores conversacionais de nosso filme:

Texto em inglês Legenda
1. By the way, the Darcy’s are here Os Darcy estão aqui
2. Well, great song Ótima música!
3.Shss, Brenda, listen, what are you
doing tonight? Psiu, Brenda! O que você vai fazer hoje a noite?
4. I mean you seem to go out of your way to try to make me feel like a complete idiot... Parece que faz questão de me fazer sentir
uma completa idiota
Quadro 18: exemplos de omissão de marcadores conversacionais

Assim como no caso dos marcadores conversacionais, o terceiro tipo mais freqüente de omissões em nosso corpus – as interjeições e expressões fáticas – também podem ter seu uso justificado pela distinção entre língua falada e língua escrita. Este grupo representa elementos característicos da língua falada, porém raros em textos escritos. Além dessa justificativa, também devemos acrescentar que tais estruturas podem facilmente ser apreendidas pelos espectadores através do áudio do filme, como afirma Linde:
It is important to remember that many of the most common deletions, such as exclamations and fillers, are still retrievable from the sound-track as they are universal features of language, unlike more ideational items which if not transcribed are lost. (LINDE, 1995, p.18)

Vejamos como estes casos apareceram em nosso corpus:

Texto em inglês Legenda
1. Yummy! Turkey curry, my favorite! Peru ao curry. O meu favorito!
2. Oh, God, yes! Deus, sim!
3. Oops! Mind the step Cuidado para descer!
4. Hurrah! I am no longer tragic spinster Não sou mais uma solteirona trágica.
Quadro 19: exemplos de omissão de interjeições e expressões fáticas

O quarto grupo com maior número de ocorrências de nossa classificação é o dos nomes próprios. Quando estes são utilizados nas falas das personagens com a intenção de chamar uma pessoa podem acabar sendo omitidos, pois assim como as interjeições e expressões fáticas, apresentadas acima, os nomes próprios também podem ser compreendidos através do áudio. Passemos a alguns exemplos deste grupo:

Texto em inglês Legenda
1. Geoffrey, didn`t you telephone Colin
and Bridget? Não ligou para Colin e Bridget?
2. Ok, Bridget, see if you can get it
right this time Veja se consegue fazer direito dessa vez.
3. Well done, Bridget Muito bem!
4. Right, no pressure, Bridget, but
your whole future happiness… Sem querer pressionar, mas agora a
sua felicidade…
Quadro 20: exemplos de omissão de nomes próprios

O quinto grupo de nossa classificação em número de ocorrências é composto por repetições. Palavras e estruturas que são repetidas em uma mesma fala com funções diversas como modo de enfatizar ou reforçar algo ou até mesmo a fim de representar uma das características mais comuns da fala espontânea – a falta de planejamento prévio que provoca repetições devido a hesitações e correções. Apesar das repetições serem comuns a língua falada, normalmente, são evitadas na língua escrita e portanto, omitidas nas legendas, como podemos verificar a seguir:

Texto em inglês Legenda
1. No no no no Não.
2. Good, good! That`s very useful!
Very useful! Ótimo! Isso é muito útil!
3. Just give me time. Give me time É só uma questão de tempo.
4. Eat up. Eat up. Two more lovely courses to go Comam. Temos mais dois pratos maravilhosos
Quadro 21: exemplos de omissão de repetições

O próximo tipo de omissão, que também apresenta um número considerável de ocorrências em nosso corpus, é composto por advérbios. De acordo com nossa análise, nos pareceu que este grupo de palavras parece ser uma boa opção quando o procedimento da omissão precisa ser usado, pois estas estruturas apenas modulam a frase e sua eliminação, normalmente, não provoca tanto prejuízo ao texto traduzido. Tal fato, pode ser observado nos exemplos que seguem:

Texto em inglês Legenda
1. and for various slightly unfair reasons… E por vários motivos injustos…
2. Two: totally ignore Daniel and suck up to famous authors Segundo: ignore o Daniel e derreta-se
com os autores famosos.
3. Apparently, it is the highest-rated
show on the channel. É o programa de maior audiência do canal.
4. Because I’m passionately committed to communicating with children. Porque estou envolvida na
comunicação com crianças.
Quadro 22: exemplos de omissão de advérbios

A próxima categoria que iremos comentar é a das perguntas de confirmação. As perguntas de confirmação seriam aqueles tipos de perguntas curtas que aparecem ao final de uma sentença a fim de confirmar ou reforçar a afirmação proposta. Tal categoria é comumente nomeada como tag question na língua inglesa. Vejamos no quadro abaixo exemplos dessas ocorrências em nosso corpus.

Texto em inglês Legenda
1. Very quiet here, isn`t it? Está muito calmo aqui
2. You don`t know where the loos are
here, do you? Por acaso você não sabe onde ficam
os toaletes?
3. Just give me a minute, would
you? Thanks Pode me dar um minuto? Obrigado
Quadro 23: exemplos de omissão de perguntas de confirmação

Como pudemos observar por estes exemplos, este tipo de omissão não traz prejuízo a compreensão do texto de uma maneira geral. O uso dessas perguntas seria, na verdade, mais uma das características da língua falada que ao ser traduzida e transformada em língua escrita é eliminada.

O próximo grupo que aparece em nosso gráfico é o dos deiticos de lugar. Como sabemos, deiticos são palavras vazias que possuem um sentido somente dentro de um contexto. Segundo nossa análise, por serem apenas palavras referenciais, estas foram omitidas pelo tradutor todas as vezes que necessário devido a relação tempo/espaço/sincronia exigida para a confecção de uma boa legenda. Vejamos alguns exemplos no quadro abaixo:

Texto em inglês Legenda
1. Here. I’ll show you Vou mostrar
2. Third drawer from the top, Una... Terceira gaveta, Una…
Quadro 24: exemplos de omissão de deiticos de lugar

A próxima categoria, assim como a anterior, também refere-se aos deiticos. No entanto, neste caso, o grupo encontrado foi o dos deiticos de lugar – palavras, que pelo mesmo motivo mencionadas no parágrafo anterior, foram eliminadas das legendas, quando houve necessidade. A seguir, apresentamos alguns exemplos dessas ocorrências:

Texto em inglês Legenda
1. No, tomorrow is the launch. Não, é o lançamento.
2. We have a wedding this weekend Temos um casamento.
3. Why is it there are so many
unmarried women in their 30s these days? Por que há tantas mulheres de 30 que não se casaram?
Quadro 25: exemplos de omissão de deiticos de tempo

O penúltimo grupo de omissões encontradas refere-se as palavras de baixo calão. De acordo com a conferência ministrada por Trindade (2004) no III Ciati, a omissão destas palavras ocorre, pois há normas e padrões a serem seguidos na produção de legendas. Segundo a palestrante, seria de senso comum, que os palavrões seriam palavras que podem ser ouvidas, mas tornam-se muito mais ofensivas quando escritas. Toschi também revela que há uma certa censura com relação a este assunto: “Dentro do cinema, o palavrão pode ser publicamente ouvido, mas não reservadamente lido” (TOSCHI,1983:162) e portanto, é necessário uma análise antes da decisão de inclusão ou não dessas palavras na legenda.

Contudo, devemos ressaltar que, hoje em dia, não há uma censura tão pesada quanto a este assunto e considerando-se que o filme é “Recomendável para maiores de 14 anos” como podemos observar indicação na capa do DVD, em nossa pesquisa, o número de ocorrências de omissões encontradas é muito baixo - somente 4 exemplos foram identificados em todas as legendas de nosso corpus, mesmo que o número de palavras de baixo calão empregadas no filme tenha sido bem superior. Dessa maneira, podemos dizer que o tradutor recorreu a omissão só quando extremamente necessário. Vejamos alguns exemplos:

Texto em inglês Legenda
1. Yes! Fill her up, goddamn it! Sim, pode encher!
2. Anyway, fuck him! Don’t let him
ruin our evening. Não deixe que ele estrague nossa noite.
3. Unless that Bosnian family’s moved in again. Bastards! Só se a família da Bósnia se mudou de novo.
Quadro 26: exemplos de omissão de palavras de baixo calão

A última categoria que aparece em nosso gráfico foi nomeada como “outros”, pois é um grupo de diferentes tipos de omissão que não se enquadram em nenhum outro grupo e que também não tinham um número de ocorrências suficientes para considerarmos como uma nova categoria, pois apareceram somente uma ou duas vezes em nosso corpus. Após nossas análises, acreditamos que o tradutor tenha optado por omitir estas estruturas por, realmente, não ter outras alternativas para que seu texto se enquadrasse no espaço e tempo disponíveis. Na próxima página, poderemos verificar alguns exemplos das omissões agrupadas nesta categoria:
Tipo de omissão Texto em inglês Legenda
Verbo I will see you in a second Num segundo
Determinante Introduce people with
thoughtful details, such as Apresente as pessoas
com detalhes atenciosos
Adjetivo Sorry, I have to have
another look Quero ver de novo.
Sentença I have spent 35 years
cleaning his house, washing
his clothes… Passei 35 anos lavando as roupas dele…
Fala simultânea
(3 falas) - Happy birthday!
- Tv queen
- We are só proud! - Feliz aniversário!
- Rainha da TV!
-
Quadro 27: exemplos de casos isolados de omissão reunidos na categoria “outros”

Apesar de termos um grupo com 23 ocorrências de vários diferentes tipos de omissão diferentes, após este estudo, pudemos verificar que a maioria das omissões segue um padrão, ou seja, as reduções são feitas de maneira sistemática tanto que há vários exemplos de cada tipo. Isso é extremamente importante, pois pudemos perceber que no caso da legendagem de O Diário de Bridget Jones, o tradutor não fez qualquer omissão, mas seguiu um certo padrão do começo ao fim do filme. O mesmo foi concluído por Linde em sua análise, “ The results lend support to the hypothesis that reductions involved in screen translations are systematic and not random” (LINDE, 1995:19)

Percebe-se que as principais escolhas do tradutor, não parecem causar problemas para a compreensão do espectador, uma vez que várias das informações omitidas podiam ser recuperadas pelo áudio ou apenas eram indicadores da língua falada.

No entanto, apesar da maioria das omissões não ter causado prejuízos para compreensão do texto, há alguns casos que apresentaram omissões de elementos importantes que, após nossa análise, nos pareceram que não deveriam ter sido eliminados das legendas, trataremos de tal assunto no próximo tópico deste mesmo capítulo.

3.3 Problemas relacionados ao uso do procedimento da omissão

Conforme nos adiantamos no fim do tópico anterior, algumas legendas de nosso corpus continham omissões de certos elementos ou estruturas que, de acordo com nossa análise, nos pareceram inadequados, pois podem comprometer o entendimento do texto. Por exemplo, em uma cena, houve uma omissão do tipo de nomes próprios, mas que por não ter caráter evocativo, em nossa opinião, não deveria ter sido eliminada. Sua omissão compromete a piada que o texto original continha, a qual pretendia demonstrar que a personagem principal Bridget, apesar de ser jornalista, não estava a par dos últimos acontecimentos na Inglaterra. Além disso, também há um outro problema, uma vez que o tradutor refere-se ao mesmo caso de duas maneiras diferentes, primeiro “O veredicto do caso Heaney” e em seguida, “Você conhece o caso Aghani?”, quando no texto original, ambas as falas referem-se ao mesmo caso “Aghani-Heaney”, como podemos verificar a seguir:

Personagem Texto em inglês Legenda
Chefe The verdict in the a
Aghani-Heaney case is expected today O veredicto do caso Heaney sai hoje.
Chefe Get yourself down to high court.
I want a hard headed interview Vá até a corte. Quero uma entrevista bem realista.
Chefe You know Aghani-Heaney case? Você conhece o caso Aghani?
Bridget Yes, of course Sim, claro
Bridget Big case Grande caso
Bridget Featuring someone called
Aghani-Heaney Com alguém chamado
Aghani Heaney?
Chefe Or two people called Kafir Aghani and
Eleanor Heaney… Ou duas pessoas chamadas Kafir Aghani e Eleanor Heaney.
Quadro 28: exemplo (1) de legendas que podem ter problemas para o entendimento
causados pela uso da omissão inadequadamente

Um outro exemplo do uso do procedimento de omissão que nos parece ter sido inapropriado pode ser observado nas legendas que apareceram abaixo, nas quais Bridget relata uma conversa que tem com um de seus familiares. Nesta pequena passagem, é omitida uma expressão do que a personagem principal faz questão de repetir inúmeras vezes ao longo do filme – o fato de ser uma “solteirona”. Sendo que tal palavra é tão repetida no texto original, nos parece que o mesmo deveria ocorrer em sua tradução, principalmente, sendo que esta palavra descreve uma condição e, até mesmo, poderíamos dizer, uma característica da personagem. Este é um dos tipos de omissão que pode ser encontrado em nossa classificação na categoria “outros”, pois trata-se da eliminação de um substantivo, algo não recorrente em nosso corpus.

Texto em inglês Legenda
And asks me the questions dreaded by
all singletons… E faz a tão temida pergunta...
Quadro 29: exemplo (2) de legenda que pode ter problema para o entendimento
causados pela uso da omissão inadequadamente

Segundo nosso ponto de vista e análise, apesar de termos encontrado estes pouquíssimos casos do uso do procedimento da omissão, que nos pareceram inapropriados, foram apenas 5 ocorrências em todo nosso corpus. Não devemos tirar crédito do profissional que produziu as legendas de O Diário de Bridget Jones, uma vez que ele apresentou um trabalho de ótima qualidade, pois soube muito bem recorrer à omissão, quando necessário, como pudemos verificar no tópico anterior a este, no qual relacionamos uma série de exemplos do uso adequado de tal procedimento.

A função deste último tópico do Capítulo 3 (Análise de dados) é apenas demonstrar que não podemos empregar o procedimento da omissão em qualquer situação. Este é um tipo de escolha do tradutor que precisa ser bem analisada antes de ser empregada para que não prejudique o espectador.

No caso das legendas, o uso de um procedimento de tradução de maneira inadequada pode fazer com que o espectador perca informações importantes para a compreensão do filme e faça com que ele pare para pensar no que leu ou, caso tenha conhecimento da língua inglesa, pare de assistir ao filme para analisar e julgar o trabalho do tradutor, pois como já mencionamos na introdução deste trabalho, um filme, por apresentar a sua tradução juntamente com o original, expõe o tradutor.

CONCLUSÃO

Neste trabalho, realizamos um estudo das legendas do filme O Diário de Bridget Jones com o intuito de que o leitor pudesse ter acesso as informações sobre a tradução para a confecção de legendas, suas dificuldades e peculiaridades. Desse modo, poderíamos, de certa maneira, defender o tradutor de legendas que é constantemente criticado devido ao fato de que, não só seu público não sabe das restrições existentes para este tipo de tradução, mas também por ter seu trabalho apresentado juntamente com o texto original, o que facilita comparações e críticas.

Para tanto, apresentamos os procedimentos técnicos de legendadem tendo como fonte para nossa pesquisa os trabalhos de Toschi (1983), Alvarenga (1998), Andrade (1998), Souza (1998), Forner (2003) e Trindade (2004).

Também discutimos e demonstramos as diferenças entre língua falada e língua escrita, uma vez que estas duas modalidades estão presentes e precisam ser consideradas pelo tradutor para a produção das legendas. Nossa pesquisa utilizou os trabalhos de Barros (1998), Urbano (1998) e Marcuschi (1994).

Além destes tópicos, apresentamos os procedimentos de tradução, de acordo com Barbosa (1990) e focamos nossa pesquisa e análise em um desses procedimentos – a omissão. Para essa parte de nosso estudo, baseamos nossa pesquisa em um artigo de Linde (1995).

Tendo realizado esse trabalho inicial e escolhido um filme que nos pareceu adequado para ser utilizado como corpus, fez-se uma transcrição das LegI e LegP, para que em seguida, pudéssemos identificar os procedimentos técnicos de legendagem, apresentados em nossos pressupostos teóricos, e, mais especificamente, para que pudéssemos cotejar as legendas a fim de identificarmos as omissões que ocorreram na tradução do texto em inglês para as legendas em português. Nossa análise dos dados revelou que o número de ocorrências do uso desse procedimento de tradução era realmente alto e que os elementos omitidos possuíam características em comum e, portanto, podiam ser agrupados pela semelhança. Em seguida, estabelecemos uma classificação dos tipos de omissões encontrados em nosso corpus, conforme quadro abaixo:
Marcadores conversacionais
Perguntas de confirmação
Interjeições e expressões fáticas
Elipse do sujeito
Advérbios
Repetições
Informações adicionais – deitico de lugar
- deitico de tempo
Nomes próprios
Palavras de baixo calão
Outros (adjetivo, determinante, verbo...)
Quadro 30: classificação dos tipos de omissão do
filme O Diário de Bridget Jones

Após tal classificação, passamos a investigar estes tipos de omissão. Com base em nossa Fundamentação Teórica, pudemos identificar os prováveis motivos que teriam levado o tradutor a optar por omitir estas estruturas. Concluímos que as categorias marcadores conversacionais, perguntas de confirmação, interjeições e expressões fáticas e repetições teriam ocorrido, pois são marcas características da língua falada e portanto, não são empregadas na língua escrita.

Já com relação a elipse do sujeito, descobrimos que esse tipo de omissão é, normalmente, encontrado nas traduções do inglês para o português devido a uma característica da língua portuguesa – as desinências verbais já indicam a que pessoa o verbo está se referindo e, portanto, não há necessidade de explicitarmos o sujeito.

Quanto aos advérbios, estes seriam eliminados, pois apenas modulam o texto. Sua omissão não causaria problemas para a compreensão do filme. O mesmo caso ocorre com os deiticos de lugar e tempo, por serem expressões vazias, que só tem sentido em um contexto, e por representarem apenas informações adicionais, mas não essenciais, também puderam ser omitidos sem causarem problemas para o espectador.

Também pudemos concluir, que a categoria de nomes próprios, interjeições e
expressões fáticas são eliminadas, quando necessário, pois podem ser recuperadas pelo áudio original do filme.

Com relação a categoria de palavras de baixo calão, conforme nossa pesquisa revelou, estes elementos podem ser ouvidos, mas tornam-se agressivos quando escritos, portanto, quando possível são eliminados. Além disto, ressalta-se que as legendas devem obedecer as normas das empresas para as quais trabalham com relação à censura.

O último grupo, denominado “outros”, juntou todos os casos de omissões isolados que identificamos em nosso corpus, mas não se enquadravam nas outras categorias nem possuíam um número representativo de ocorrências. Tal grupo reúne as omissões de verbo, determinante, adjetivo, fala simultânea e etc.

Após esta investigação, passamos a acreditar que as omissões existentes nas legendas de filmes, pelo menos no caso do filme O Diário de Bridget Jones e dos filmes analisados por Linde, são feitas de maneira sistemática e não ao acaso, ou seja, percebemos que há uma espécie de convenção a respeito dos elementos que podem ser eliminados das legendas sem causar prejuízos para a compreensão do filme por parte dos espectadores.

No entanto, em nosso corpus, também identificamos a presença de alguns poucos casos de omissões que poderiam representar problemas para os espectadores. Tal fato também mereceu reflexão. Concluímos que apesar de sistemático, o uso do procedimento de tradução, omissão, precisa ser sempre analisado, pois se empregado de maneira inadequada pode criar dificuldades para os espectadores.

Este estudo vem, portanto, reiterar estudos anteriores que se dedicaram ou a identificação dos procedimentos técnicos de legendagem, como o trabalho de Andrade (1998), ou as críticas das escolhas dos tradutores, artigo de Souza, uma vez que procura relacionar tanto os procedimentos de técnicos de lengendagem com os de tradução, assim também como busca a relação destes com as mudanças necessárias devido as transformações de língua falada para escrita e as implicações que tais procedimentos têm na confecção de uma legenda.

Assim, este trabalho procurou mostrar aspectos relevantes para a tradução de um filme e sua legendagem. Foram analisadas as legendas que tivessem sido traduzidas com o auxílio do procedimento técnico da omissão – procedimento bastante empregado na legendagem de filmes. Verificamos quais os tipos de omissões empregados na legendagem do filme O Diário de Bridget Jones, as razões para o uso deste procedimento e até que ponto há uma interferência na compreensão do filme.

Consideramos o estudo da legendagem de fundamental importância, uma vez que é uma das áreas da tradução a qual um grande número de pessoas está exposta e também pelo fato de haver muitas críticas negativas com relação a qualidade das legendas produzidas no Brasil. Entretanto, deve-se ressaltar que este é um estudo limitado e reduzido para permitir observações descritivas conclusivas e, por isso, os resultados apontados poderão ser complementados por um corpus constituído por um número mais expressivo de filmes para ser representativo das legendas produzidas na língua portuguesa.


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TRADUÇÃO, TECNOLOGIA, TALENTO. São Paulo: Unibero, 2004.

URBANO, Hudinilson. Variedades de Planejamento no texto falado e no
escrito In: PRETI, D. (org.) Estudos de Língua Falada: variações e
confrontos. São Paulo: Humanitas/ FFLCH/USP, 1998.

O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (BRIDGET JONES´S DIARY). Direção:
Sharon Maguire. Produção: Tim Bevan; Eric Fellner; Jonathan Cavendish.
Intértpretes: Renne Zellweger; Hugh Grant; Colin Firth. Música: Patrick Doyle.
Estados Unidos, Universal Pictures Studiocanal e Miramax Films,2001.1 DVD
(97min). Som., color.

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